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Degustando taças

Dono da Riedel, marca austríaca de cristais, promove uma prova de copos em São Paulo

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*

22/06/2008

Georg Riedel e seus copos: “As taças são como alto-falantes e ampliam os aromas, que são moléculas que enviamos ao cérebro” (Foto: Divulgação)

Muitos fatores podem tornar a experiência de tomar vinho mais ou menos prazerosa. Servir a bebida na temperatura adequada, casá-la de forma minimamente satisfatória com o cardápio, abrir o tão desejado rótulo no momento adequado de sua “vida”, ter uma boa companhia à mesa – tudo isso pode influir na fruição de tintos e brancos. E, claro, há ainda a delicada questão dos copos. Até que ponto tomar um vinho em sua suposta taça ideal realça qualidades da bebida que passariam despercebidas ou minimizadas se o mesmo vinho fosse servido no recipiente inadequado? Os grandes fabricantes de cristais garantem que não basta ter uma taça para tintos, outra para brancos, uma terceira para espumantes e talvez uma quarta para vinhos doces e/ou fortificados, o que já não é pouca coisa. Chegam a recomendar taças específicas para as principais uvas ou tipos de vinho. Será que essas taças fazem realmente alguma diferença?

Disposto, claro, a mostrar que sim, Georg Riedel, membro da 10ª geração da família austríaca que produz os mais renomados copos para vinho, as taças Riedel, esteve em São Paulo no dia 19 de maio. Georg comandou um jantar promovido pela importadora Expand, que traz os cristais da marca para o Brasil. “Estamos nesse negócio dos copos porque as pessoas não tomam vinho nas garrafas”, disse Georg, fazendo piada. “As taças são como alto-falantes e ampliam os aromas, que são moléculas que enviamos ao cérebro.” No evento, formalmente denominado Glass Tasting e com custo de R$ 298 por participante, as estrelas eram as taças. Quatro copos foram testados: um destinado a duas uvas brancas, Sauvingon Blanc e Riesling; outro feito apenas para a (branca) Chardonnay; um terceiro voltado para as tintas Pinot Noir e Nebbiolo; e, por último, um concebido para a Cabernet Sauvigon. Os copos, todos da linha Vinum Extreme, com preço por unidade entre R$ 86,00 e R$ 95,00, foram, digamos, harmonizados com quatro vinhos do catálogo da Expand: o sul-africano Steenberg Sauvignon Blanc 2006, o chileno Amélia Chardonnay 2005, o também chileno Seña 2003 (blend majoritário de Cabernet Sauvignon e Merlot, com um pouco de Carmenère e Cabernet Franc) e o borgonha Fixin 2004 (elaborado com Pinot Noir).

Os vinhos foram degustados no copo correto, indicado pelo fabricante para aquela variedade de uva, em taças “erradas”, não recomendadas para o tipo de vinho em questão, e também em copo plásticos, de boca estreita, sem haste e bojo, daqueles encontrados em bebedouros para tomar água. A primeira conclusão da prova, embora óbvia, foi irrefutável: os quatro vinhos provados nos copos de água ficaram praticamente sem aromas e sem graça. Um desastre. Lição número um: o formato do copo influi, sim, na avaliação da bebida. A segunda conclusão, bem mais subjetiva e discutível, é que alguns vinhos realmente pareceram mais interessantes em seu copo oficial – caso do fresco e aromático Sauvignon Blanc e do delicado Pinot Noir – enquanto outros, talvez por serem mais encorpados, como o rico e amadeirado Chardonnay e o maduro e potente Seña 2003, tiveram um desempenho satisfatório em mais de uma taça.

Além de um formato específico para cada tipo de vinho, que concentra em maior ou menor escala os aromas da bebida, cada taça tem outra característica singular: despeja o líquido em pontos diferentes da língua, tentando realçar as qualidades (ou mascarar fraquezas) do vinho a que se destina. Esse detalhe parece fazer alguma diferença na apreciação de certos vinhos. As taças, por exemplo, para vinhos doces e também as concebidas para Chardonnay (vinhos geralmente secos, mas freqüentemente untuosos) jogam a bebida mais na ponta da língua, a única região da boca em que percebemos as sensações de doçura. Já os copos para Sauvignon Blanc/Riesling, vinhos mais nervosos, despejam o líquido um pouco mais à frente, no meio do palato, “realçando as sensações de mineralidade”, segundo o fabricante austríaco. O negócio do senhor Riedel é vender copo. Deve-se dar um desconto em algumas coisas que ele diz. Mas é inegável que uma boa taça pode fazer a diferença.

*Esta matéria foi originalmente publicada na edição de junho de 2008 do jornal Bon Vivant

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