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O Icewine de São Joaquim

Vinícola Pericó lança o primeiro vinho do gelo brasileiro, elaborado com uvas da serra catarinense

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*

26/11/2010

A produção de vinhos no Brasil envereda, às vezes, por caminhos inusitados. De um vinhedo situado a 1300 metros de altitude em São Joaquim, na fria serra catarinense, nasceu o primeiro vinho do gelo feito no país. No dia 10 de outubro, a Vinícola Pericó lançou oficialmente a safra inaugural do seu Icewine, elaborado com uvas Cabernet Sauvignon colhidas naturalmente congeladas a -7,5 ºC no amanhecer dos dias 4 e 12 de junho de 2009 e prensadas ainda nesse estado. O congelamento concentra os açúcares, a acidez e o extrato das uvas maduras, deixando na prensa apenas os cristais de água. “Introduzimos o Brasil no limitado mundo dos vinhos do gelo”, diz Wandér Weege, dono da malharia Malwee e fundador da Pericó.

Raro e caro, esse tipo de vinho doce é de difícil produção e é uma das especialidades de países que praticam a viticultura em zonas gélidas, como a Áustria, a Alemanha (nessas duas nações é denominado Eiswein), o Canadá e em partes dos Estados Unidos. A versão brasileira do vinho do gelo leva esses dois predicados ao paroxismo: foram produzidas apenas 3.633 garrafas do Icewine nacional cujo preço sugerido de venda ao consumidor final gira em torno dos R$ 190,00.  Detalhe nada desprezível: as belas garrafas italianas que contêm o lançamento da Pericó abrigam somente 200 ml de Icewine.  Em geral, os vinhos do gelo feitos em outros países vêm em garrafas de 375 ml.

Alguns detalhes tornam o Icewine brasileiro um irmão exótico em meio à família dos vinhos do gelo. A maioria dos Eiswein é elaborada com uvas brancas, como a Riesling, a (austríaca) Grüner Veltliner ou a híbrida Vidal.  Os poucos exemplares tintos são feitos quase sempre com a Cabernet Franc. No caso da serra catarinense, a melhor aposta para a produção de um vinho do gelo era a tinta Cabernet Sauvignon.  “Essa era a única variedade tardia que tínhamos no vinhedo capaz de amadurecer lentamente até a chegada das temperaturas negativas em São Joaquim”, explica Jefferson Sancineto Nunes, enólogo da Pericó. O vinho do gelo brasileiro apresenta 15% de álcool e 84 gramas de açúcares por litro, valores diferentes dos exibidos por seus parentes da Europa e da América do Norte.  O teor alcoólico dos vinhos de gelo varia de pouco mais de 6% em certos exemplares alemães a no máximo uns 13% em algumas garrafas canadenses.  A quantidade de açúcar residual costuma estar na casa dos 200 gramas por litro, mais do que o dobro da presente no Icewine catarinense. Vinhos assim tão doces só não se tornam enjoativos quando ostentam um elevado grau de acidez, característica que dá equilíbrio e vivacidades aos melhores Icewines.

* Esta matéria foi originalmente publicada na edição de novembro de 2010 do Bon Vivant

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