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Pela Fenavinho 2007

Um fim de semana com Yeda Crusius, Danio Braga e os tigres romanos

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br

25/02/2007

Cena um. Fim de tarde de sábado, 10 de fevereiro. Fenavinho Brasil 2007, Bento Gonçalves.

Me aproximo do stand da Vallontano, uma pequena vinícola do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, e vejo que alguma coisa fora do normal está acontecendo. Fotógrafos, operadores de câmeras de TV e um pequeno grupo de repórteres com seus bloquinhos de anotação – eu também tenho o meu, é claro, só que está na minha bolsa – estão ali parados tentando captar sons e imagens da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, que visitava a Fenavinho. Ao lado da governadora, os organizadores da festa, entre os quais Luís Henrique Zanini, enólogo e um dos donos da Vallontano. De terno e gravata, na maior estica, Zanini, que atualmente acumula ainda o cargo de presidente da Aprovale (Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos), troca uma ou duas palavras comigo e ficamos de conversar num momento mais tranqüilo. Quando o stand se esvazia, aproveito a calmaria para provar os vinhos.

Cena dois. Domingo à noite, 11 de fevereiro. De novo na Fenavinho.

Passo novamente no stand da Lidio Carraro, outra vinícola familiar do Vale dos Vinhedos, onde já estive uma ou duas vezes, para me despedir do pessoal. Penso comigo mesmo: “Já os chateei bastante na feira, vou dar um tchau rápido e ir para o hotel”. Mas descumpro a promessa. Como sempre, Patricia Carraro, que cuida do marketing e das vendas da vinícola, está ocupada. Essa menina não pára nunca. Ao lado dos irmãos Juliano e Giovanni (a enóloga Monica Rosseti não está), Patricia dá atenção a dois senhores que provam seus vinhos. Mas não são dois visitantes quaisquer. Olho bem e vejo que os senhores são Adolfo Lona, enólogo radicado na Serra Gaúcha, hoje dono de sua própria vinícola, e o chef e sommelier italiano Danio Braga, dono da pousada-restaurante Locanda della Mimosa, em Petrópolis (RJ), um dos pais da enogastronomia no Brasil. Eles experimentam alguns rótulos e trocam impressões com Patricia. E Danio marca uma visita à vinícola para o dia seguinte.

Eu poderia descrever ainda outras cenas interessantes que vi nos três dias (de 9 a 11 de fevereiro) que passei pela Fenavinho. Como a festiva mesa no stand da Salton que, no sábado à tarde, reunia, entre outros, o sempre animado e nunca discreto Ângelo Salton Neto, o capo da Salton, seu concorrente Darcy Miolo, um dos donos da vinícola homônima, e mais dois ou três jornalistas brasileiros. Todos de copo na mão, é claro. Mas acho que já é o bastante.

Ao comemorar 40 anos, a Fenavinho, que já esteve por baixo em edições passadas, parece ter dado a volta por cima em 2007. Gerou bastante cobertura de imprensa e praticamente todos os produtores com que conversei estavam contentes com os novos rumos do evento. A Fenavinho aparentemente se profissionalizou, me dizem. Hoje, sem deixar de ser uma festa, tornou-se efetivamente uma feira do vinho nacional, com ênfase nos negócios e na divulgação da produção de vinícolas brasileiras de todos os tamanhos. Na feira, havia stands de 84 vinícolas, colocando lado a lado empresas grandes e conhecidas, como Aurora, Miolo e Salton, e vinícolas diminutas e recém-nascidas, como a Faé e a Reginato, de Monte Belo do Sul (município vizinho a Bento Gonçalves), e a Barcarola e a Terragnolo, ambas situadas no Vale dos Vinhedos.

Alguns números interessantes da Fenavinho 2007: mais de 150 mil pessoas visitaram a feira (três vezes mais que na edição anterior) durante seus 14 dias de duração; as rodadas de negócios com compradores do Brasil devem render nos próximos meses cerca de R$ 900 mil às vinícolas; outro US$ 1,2 milhão deve ir para o caixa dos produtores nacionais se as sondagens de compra feitas por clientes do exterior realmente se materializarem; 25 mil pessoas viram o espetáculo cênico que conta a história do vinho, desde sua origem, passando por Grécia, Roma e França, até os dias atuais.

Aliás, o espetáculo cênico foi uma atração à parte. A grandiosidade das alegorias usadas na produção, feitas na Serra Gaúcha por artistas de Parintins, no Amazonas, impressionou o público –e a mim. O show é uma manifestação cultural amparada num texto mais poético que didático, como seus próprios organizadores deixam claro. Ou seja, o espetáculo, montado ao ar livre, não pretende ser uma aula de história. Mas, sim, um show de luzes, sons, figurinos e figurantes feito para emocionar e engrandecer o tema vinho. Até aí tudo certo. Só acho que o espetáculo podia ser um pouco mais curto. Na noite em que eu o vi, durou pouco mais de duas horas. Mas teve gente que me garantiu que ele pode se prolongar por até duas horas e meia … Ao final do show, a bunda da gente sai quadrada. É o preço da cultura.

E mais uma coisa: alguém sabe me dizer se as bigas romanas eram mesmo puxadas por tigres, como mostra o espetáculo, e não por cavalos? Sempre pensei que a função dos felinos na Roma antiga era comer cristãos em geral e gladiadores derrotados …

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