JV

Três vinhos de supermercado

Um Cabernet Sauvignon chileno, um Côtes du Rhône e um vinho doce de sobremesa brasileiro para o dia-a-dia

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br

15/06/2009

Muita gente desdenha dos vinhos de supermercado. As críticas mais leves que se fazem a esses rótulos que ocupam espaço nas prateleiras das grandes redes é que eles não têm charme, são produtos industrializados e mal-conservados. Na maioria dos casos, é bem possível que tudo seja verdade. Mas há exceções que, se não chegam a ser excitantes, ao menos são confiáveis e configuram uma boa compra.

Nos supermercados, dê sempre preferência a vinhos mais jovens, que, teoricamente, ficaram menos tempo expostos às intempéries dos Carrefour, Pão de Açúcar e Wall Mart da vida. Escolha brancos com um ou dois anos de vida e evite os que já estiverem da cor amarelo ouro, um sinal de que já começaram os trâmites para acertar sua entrada no reino de São Pedro (se é que já não estão lá). Dê preferência também a tintos com no máximo dois ou três anos anos de vida. É claro que sempre é possível comprar no supermercado um tinto de 5 anos que ainda esteja em perfeito estado. Mas o risco é maior.

Não recomendaria gastar mais do que R$ 30 num rótulo de supermercado. Se é para investir ao menos R$ 40 num vinho, é melhor procurar uma importadora ou uma loja especializada, onde o leque de rótulos disponíveis pode ser maior e o cuidado com os vinhos, também (estou sendo otimista com os lojistas). Feitas essas ressalvas, seguem três dicas, fáceis de ser encontradas (espero) em qualquer supermercado:

Para entender o sistema de cotação de vinhos aqui usado, consulte esta página.

Casillero del Diablo Cabernet Sauvignon 2007(13,5% GL, em torno dos R$30) – Deveria ser proibido alguém recomendar publicamente um vinho dessa linha da gigante chilena Concha Y Toro, já tão amplamente conhecida e elogiada. Mas não resisto. Esse tinto da colheita de 2007, propagandeada como uma das melhores vindimas dos últimos tempos no Chile (mais uma “safra histórica”? Esse pessoal do marketing faz jus a cada centavo que ganha) tem boa fruta e a madeira lhe empresta aromas de tostados e café. É redondo, de corpo médio, com boa concentração de cor e aromas, mas sem ser enjoativo ou excessivamente alcoólico. Cerca de 70% do vinho passou por barricas pequenas de carvalho americano. A consistência dos tintos da linha Casillero é realmente impressionante. Com sorte, é possível achar esse vinho por menos de R$25 em promoções de supermercado. Num desses mistérios do mundo do vinho, o preço do Casillero no Brasil não chega a ser absurdamente mais alto do que no exterior. Sempre segundo o site de comparação de preços Wine Searcher, uma das diabólicas garrafas do Cabernet chileno custa nos EUA entre US$ 7 e US$ 10, na Inglaterra uns US$ 9, na França de US$ 9 a US$11. Ué, ela não tinha que custar aqui pelo menos o dobro do que no exterior em razão dos altos impostos, do custo Brasil e do custo (ou lucro, depende do ponto de vista) importador? Interessante … ***1/2

Côtes du Rhône Abel Pinchard 2007 (14,5% Gl, entre R$ 20 e R$ 30) – Um modestíssimo Côte du Rhône feito pelo négociant Abel Pinchard, que faz parte do catálogo da importadora Casa Flora. No contra-rótulo, só há menção às uvas Grenache e Syrah como integrantes do blend, mas no site da Casa Flora, sem especificar safras, também são citadas a Cinsault e a Mourvèdre. Tem um perfil de vinho barato do Novo Mundo: muita cor, frutadão, quase “doce” e bem quente (mas num limite ainda suportável, apesar do assustador teor de álcool). Uma alternativa francesa para quem se acostumou a tomar tintos sul-americanos de perfil parecido. Por cerca de R$ 20 é uma boa compra, mas não mais do que isso. Provei também a safra 2006, mas ela agradou menos do que a 2007. ***

Colheita Tardia Aurora 2008 (13% GL, em torno dos R$15 a garrafa de meio litro) – Vinho branco doce de sobremesa da Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves (RS). Um corte (blend das uvas Sémillon e Malvasia Bianca. Tem aromas de flores e frutas brancas. É delicado e leve. Não é muito concentrado nem muito doce. Talvez lhe falte um pouco de frescor. Mas, por esse preço, é uma boa pedida para acompanhar e sobremesas com pouco açúcar. A safra 2009 também já está presente nos supermercado, só que ainda não a provei.***

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