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Frisantes repaginados

Produtores adotam tampa de rosca e aprimoram a apresentação desse tipo de vinho na esperança de melhorar a imagem (e as vendas) da bebida

Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*

02/12/2008

Alguns produtores brasileiros, como a gigante Salton e a Fante Bebidas, de Flores da Cunha, na Serra Gaúcha, estão investindo num tipo de vinho fino que pode até ser popular, mas ainda é um dos mais mal-afamados do mercado: os frisantes. Com discreta, porém perceptível presença de bolhinhas de gás carbônico, que podem ser de origem natural ou injetadas industrialmente, os frisantes são, por definição, uma bebida de transição. Estão longe de serem espumantes, do qual têm menos da metade da quantidade de CO2, mas também não são exatamente vinhos tranqüilos, totalmente desprovidos de dióxido de carbono. Seus atrativos costumam ser três: os preços baixos (em torno dos R$ 10, no máximo R$ 15), os variados graus de doçura (encontrar um frisante seco não é nada fácil) e, claro, a sensação de frescor associada às bolhinhas. Na visão dos produtores, os frisantes são vinhos frutados, não muito alcoólicos e sem maiores pretensões. São feitos para serem consumidos bem geladinhos e de forma descontraída num dia quente ou em festividades. Seu público alvo são as mulheres, os jovens e os iniciantes no mundo do vinho.

Dar uma roupagem moderna à sua linha de frisantes, a Lunae, que chegou ao mercado em maio passado, foi uma das preocupações da Salton. Além de adotar um sistema que permite a impressão do rótulo na própria garrafa, a linha optou por usar a tampa de rosca (screw cap) como forma de vedação em suas versões rosada e branca. “O Salton Lunae é uma proposta inovadora e, assim como o rosé conquistou os consumidores nos últimos anos, apostamos no sucesso dessa releitura do frisante”, afirmou o diretor comercial da vinícola, Daniel Salton, na ocasião do lançamento do produto. O investimento parece que vem dando resultado. O primeiro lote de cerca de 85 mil garrafas dos Lunae – metade do branco, um blend das uvas Riesling, Semillon e Moscato, e metade do rosé, elaborado com as mesmas variedades mais a uva tinta Carbenet Sauvignon – já se esgotou. Para o final do ano, a empresa teve de elaborar às pressas mais 258 mil garrafas do frisante branco e 183 mil do rosé. Os vinhos da linha Lunae não são safrados, o que é quase um regra nesse segmento de mercado, e são meio secos. A cada litro são adicionados 21 gramas de açúcar. A origem da borbulhas é natural, fruto da interrupção do processo Charmat, no qual a (segunda) fermentação ocorre em grandes tanques de inox.

A investida da Fante no filão das bebidas quase borbulhantes foi com o Oremus Moscato Giallo Frisante, um vinho branco elaborado com uma variedade bastante aromática da uva Moscato. Cerca de 24 mil garrafas do produto, também vedado com tampa de rosca, chegaram ao mercado em meados do ano. O gás carbônico do Oremus é injetado e o vinho, adocicado, não é safrado. “Com esse lançamento, buscamos atender um público que consome o vinho fora das refeições, na praia ou durante o happy hour“, diz Julio Fante, diretor da empresa. “Ainda não dá para falar muito na resposta do mercado, mas o interesse pelo produto é bom, embora ele ainda não seja muito conhecido. Acreditamos que esse segmento tenda a crescer”.

Outras grandes empresas já estavam explorando o interesse popular pelos frisantes há ainda mais tempo que a Salton e a Fante. A linha Sunny Days, da Almadén, uma das marcas da multinacional de bebidas Pernod Ricard, vende anualmente cerca de 500 mil garrafas do seu frisante branco e 150 mil do rosado. Elaborados com uvas da região de Santana do Livramento, perto da fronteira com o Uruguai, ambos os produtos são suaves (doces) e gaseificados artificialmente. Desde setembro do ano passado, os Sunny Days também usam tampas de rosca, que, segundo os produtores, são um tipo de vedação mais eficaz na manutenção das bolhas de gás carbônico em vinhos frisantes. A Cooperativa Vinícola Aurora também conta em seu vasto portfólio com quatro frisantes, todos também suaves: um branco e um rosé da linha Marcus James Happy Hour, lançados no segundo semestre de 2005, o tinto Rosso Maggiore (inspirado no Lambrusco italiano e lançado há três anos) e o branco Bianco Maggiore, que chegou às gôndolas dos supermercados em meados de 2006.

*Esta matéria foi originalmente publicada na edição de novembro de 2008 do jornal Bon Vivant

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