Desenhadora de chás
Inés Berton, argentina especialista em infusões, fala sobre sua bebida favorita
Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br*
15/02/2006
- Inés: “Meu trabalho é colocar cor, corpo e aromas numa xícara de chá” (Foto: Divulgação)
Considerada uma das maiores especialistas internacionais em chás e infusões, com uma lista de clientes vips que inclui pessoas físicas (como a atriz Uma Thurman, a família real espanhola e o Dalai Lama) e jurídicas (caso do hotel Waldorf Astoria, em Nova Iorque), a argentina Inés Berton deverá lançar sua linha de produtos, a Tealosophy, em março no Brasil. Inicialmente, os blends de chá preparados por essa portenha de 32 anos, que já morou nos Estados Unidos e emprestou seus conhecimentos para a indústria de perfumes, farão parte da carta do restaurante DOM, em São Paulo, do renomado chefe Alex Atala. Num segundo momento, deverão chegar a outros locais. “A marca Tealosophy é uma fusão de chás do Oriente e ingredientes do Ocidente”, afirma Inés, cuja loja em Buenos Aires fica ao lado do pequeno restaurante Promenade Alvear, do chef Rodrigo Toso, seu marido. “Meu trabalho é colocar cor, corpo e aromas numa xícara de chá.”
Todas as folhas de chá usadas em sua linha são colhidas à mão, em quantidades limitadas, e retiradas de plantas da espécie Camellia sinensis (o chá de verdade) que crescem em pontos distantes do globo, como China, Japão, Sri Lanka e Índia. Os demais itens usados nas exclusivas misturas – baunilhas, cacaus, flores de jasmim, mangas, mamões etc – são escolhidos em terras ocidentais, às vezes em latitudes muito próximas. “Uso muitos ingredientes do Brasil”, diz a criadora de infusões, que percorre o mundo em busca de aromas e sabores diferenciados para os produtos de sua grife. “Estou descobrindo muitas frutas da Amazônia.” Os blends de Inés são em geral vendidos soltos, muitas vezes feitos de forma personalizada para seus clientes, embora ela também “desenhe” chás e infusões em saquinhos para a marca argentina Inti Zen, exportada para vários países, inclusive o Brasil.
O segredo de um bom chá começa com a escolha da matéria-prima ideal. Como os grandes produtores de vinhos, que destinam os lotes especiais de uma colheita abençoada para suas garrafas de maior prestígio e qualidade, Inés procura separar as folhas de chá para suas criações de acordo com as características da região e da safra em que elas produzidas. “ Pessoalmente, gosto muito dos Darjeelings, que são considerados como os champanhes dos chás”, comenta Inés. “Todo ano seleciono as melhores folhas dessa variedade de chá.” Tipo delicado, caro e raro de chá que resulta numa bebida de tom dourado e com aromas às vezes associados aos da uva moscatel, os Darjeelings são cultivados no sopé da cadeia dos Himalaias, na Ásia.
Como um vinho servido na temperatura errada ou em copo inadequado, um blend de chás, por mais nobres que sejam seus ingredientes, pode não exibir todas as suas qualidades se tiver sido preparado de forma errada. “O mais importante é controlar o tempo de infusão e não deixar nunca a água ferver”, avisa Inés. “Para chás pretos, com folhas inteiras, três minutos de infusão. Mais tempo do que isso e o chá vai ficar amargo e adstringente. Para chás verdes, recomendo de um a dois minutos.” A argentina também dá uma dica para quem gosta de chá mais ou menos encorpados. Normalmente, a medida ideal é usar uma colher de chá para cada xícara. “Se você gosta da bebida mais forte, aumente a quantidade de chá por xícara, mas não mude o tempo de infusão. Se preferir mais fraca, use menos chá”, aconselha a especialista, que tem livro e até CD de música lançados com a sua filosofia de apreciar as infusões e a vida.
*Esta matéria foi originalmente publicada no edição de janeiro de 2006 do jornal Bon Vivant
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