Colheita 2009 produzirá menos champanhe
Com as exportações em queda, produtores resolvem diminuir o rendimento da safra 2009 para evitar a queda no preço do espumante
Marcos Pivetta/www.jornaldovinho.com.br
15/10/2009
Antes de setembro do ano passado, quando a crise financeira mundial se tornou a notícia do dia, a demanda global por champanhe estava em alta. Tão em alta que em 2007 a região bateu seu recorde de comercialização do produto (338,7 milhões de garrafas) e, em março de 2008, os grandes produtores de champanhe obtiveram autorização para expandir o tamanho da área delimitada em que poderiam plantar Chardonnay, Pinot Noir e Pinor Meunier destinados à elaboração do espumante. A lógica da medida era simples: queriam ter uva suficiente e a um preço não muito elevado para, no futuro, matar a sede global por champanhe. As grandes casas produtoras temiam que o champanhe, que já é caro, se tornasse demasiadamente caro e proibitivo para muitos consumidores (veja reportagem antiga sobre a questão).
Mas, no aniversário de um ano da crise global, o panorama é outro, ao menos no curto prazo. No primeiro semestre deste ano, as exportações de champanhe caíram quase 37% (embora haja quem fale numa queda de 45%) em relação ao mesmo período de 2008. Então, às vesperas da colheita deste ano, que começou na semana passada, que medidas tomou o Comité Interprofessionnel du vin de Champagne (CIVC), a entidade que representa os interesses do setor, com a benção do INAO, o organismo francês que controla as denominações de origem? Reduziu em cerca de 30% a quantidade de uva que poderá ser colhida neste safra e usada imediatamente pelos viticultores da região de Champagne para elaborar seus espumantes. A medida limita o rendimento dos vinhedos nesta safra em 9.500 quilos de uvas por hectare (embora haja várias exceções e condicionantes que permitem ultrapassar esse teto) e visa diminuir a produção de champanhe e, assim, evitar uma baixa imediata no preços do produto. Os produtores temem que os champanhes mais baratos sejam vendidos nos supermercados da França (e de outros países da Europa) a valores inferiores ou muito próximos a 10 euros.
As novas regras para a safra 2009 não farão com que uma enorme quantidade de uva seja deixada ao sol para apodrecer nos vinhedos da região de Champagne. Toda a fruta será colhida, mas o excesso de produção acima do autorizado poderá ter diversos fins, de acordo com o status do dono do vinhedo (uma grande empresa produtora de champanhe e, por exemplo, um pequeno vitivinicultor são tratados de formas distintas) e com o tamanho do estoque da bebida em sua cave. Como já foi dito, a regra para a colheita 2009 é cheia de exceções e casos especiais. A fruta colhida em excesso provavelmente será, de acordo com a condição de cada produtor, destilada, mas poderá até mesmo ser engarrafada e virar champanhe. Mas só daqui a um tempo.
Por ora, ninguém mais fala da expansão dos vinhedos de Champagne. Por ora.
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